quarta-feira, 29 de junho de 2011

Pequeno escritório, grande negócio? Disparada nos lançamentos e nos preços gera dúvidas sobre possível saturação do segmento de pequenos escritórios na Grande São Paulo

Entre 2006 e 2009, segmento de pequenos escritórios viu VGV saltar de US$ 481,1 milhões para US$ 1,1 bilhão e área total lançada se elevar de 344 mil m² para 600 mil m².

O segmento de pequenos escritórios na RMSP (Região Metropolitana de São Paulo) tem apresentado crescimento impressionante nos últimos anos, tanto em oferta, quanto em preços e vendas. Em 2006 foram 2.016 conjuntos em 16 lançamentos na Região. Dois anos depois o número subiu para 4.909 conjuntos em 27 lançamentos, com o mercado alcançando o inédito número de 7.476 conjuntos, em 48 lançamentos, no ano de 2010, segundo dados da Embraesp (Empresa Brasileira de Estudos do Patrimônio).
 
A área total lançada nesta tipologia, na RMSP, saltou de 344 mil m2 em 2006 para 600 mil m2 em 2009, sendo que o valor geral de vendas lançado mais que dobrou no mesmo intervalo, saltando de US$ 481,1 milhões para US$ 1,1 bilhão. O avanço do preço do metro quadrado útil também não fica muito atrás, subindo com mais força a partir de 2004, quando sai de R$ 4.379 para R$ 7.909 em 2010, apontam dados da Embraesp.

Com preço e oferta crescentes, construtoras, investidores e incorporadoras planejam cada vez mais lançamentos no segmento, muitos deles buscando novos mercados, fora dos bairros com tradição em pequenos escritórios comerciais (veja boxe). Estimativa da Colliers, empresa especializada em imóveis corporativos, aponta que até o ano de 2014 serão lançados mais 450 mil m2 nas regiões primárias (tradicionais neste segmento) de São Paulo, e outros 220 mil m2 nas regiões com menos tradição em receber escritórios comerciais. Para efeito de comparação, estes lançamentos se equivalem à soma do estoque atual de salas comerciais disponíveis em regiões com forte presença comercial, como o Itaim (407 mil m2) e Faria Lima (285 mil m2). Tamanha pujança e o grande número de lançamentos previstos dividem especialistas consultados pela Construção Mercado sobre o futuro deste segmento: é real o risco de uma saturação no mercado de pequenos escritórios comerciais na Região Metropolitana de São Paulo?

"O problema com este tipo de produto [pequenos escritórios comerciais] é que ele não se defronta diretamente com o mercado, ele não é colocado para o consumidor final, ele é colocado para o investidor, que vai alugar para o consumidor final" (João da Rocha Lima coordenador)

"A cidade de São Paulo produziu pouco [deste tipo de imóvel] na última década, e estava na hora de recuperar um pouco"  (Luiz Paulo Pompéia diretor da Embraesp)

Parte dos entrevistados avalia que haverá excesso de oferta entre 2012 e 2014, quando boa parte dos empreendimentos que estão sendo construídos atualmente será entregue. "Hoje o que está disponível ou o que está sendo lançado não está saturando o mercado, mas acredito em uma saturação nos próximos dois ou três anos, principalmente porque os investidores estão comprando por um preço alto, mas o ocupante final, seja dentista, médico, advogado, ou outro profissional, está comprando caro, e na hora de alugar ele não consegue um retorno equivalente", avalia André Strumpf, gerente de escritórios da Colliers International.

Ele considera que atualmente o investidor obtém, no mercado de pequenos escritórios, retorno igual ou um pouco superior ao conseguido com a caderneta de poupança, mas acredita que a partir do ano que vem "a sensibilidade do investidor artigo do coordenador do Núcleo de Real Estate da Poli-USP (NRE-Poli), João da Rocha Lima, cujo teor debate a existência ou não de bolha no segmento de imóveis comerciais: "O investidor que aplica poupança em salas de escritório para alugar tende a fazer a leitura de mercado sob o viés de julgar a demanda em seu ciclo operacional, como sendo derivada da demanda percebida no momento do investimento. O especulador se aproveita disso. Os mercados indisciplinados como esse, que, ainda que movimente posições de investimento de montante elevado e dotadas de pretensa proteção implícita de valor, tendem a apresentar movimentos perigosos de desajuste de preços: ciclos nos quais o valor percebido pelos investidores está acima do que é o preço razoável de ser aplicado na oferta, denotando especulação". (Leia, ao final desta reportagem, o artigo na íntegra.)

João da Rocha Lima acrescenta que "pelos preços que estão sendo colocados, não haverá padrão de aluguel capaz de compensar o investimento". Ele pondera que o investidor em imóvel, especialmente o de imóveis comerciais, faz uma imagem falsa de proteção de investimento. "Este investidor faz o raciocínio de que mesmo que ele não tenha renda, estará tranquilo, porque o imóvel não perde valor. No Brasil, no imaginário das pessoas o tijolo sempre protege o investimento, mas isso nem sempre é adequado."

"Acredito em uma saturação [do mercado de salas comerciais] nos próximos dois ou três anos, principalmente porque os investidores estão comprando por um preço alto"   (André Strumpf gerente de escritórios da Colliers International)


 
Mercado de flats

Para Rocha Lima, existe a possibilidade de que o mercado de pequenos escritórios comerciais esteja vivenciando o mesmo processo verificado no mercado de flats em meados da década passada, quando a oferta cresceu muito em pouco tempo, gerando um grande número de imóveis vazios e sem liquidez. "O problema com este tipo de produto [pequenos escritórios comerciais] é que ele não se defronta diretamente com o mercado, ele não é colocado para o consumidor final, ele é colocado para o investidor, que vai alugar para o consumidor final. O mesmo aconteceu com o mercado de flats, cuja demanda é semelhante, feita num primeiro momento por investidores."

Ele lembra que foram lançados quase 30 mil unidades em flats em dois anos, e estes ficaram com taxa de ocupação entre 20% e 30% por um grande período, "e só se recuperaram nos últimos anos". No segmento de pequenos escritórios compartilhados, Rocha Lima é categórico: "é muito provável que aconteça um impacto negativo, porque vai haver uma oferta concentrada de espaços de escritórios daqui a três ou quatro anos, quando estes empreendimentos lançados nestes últimos dois anos serão concluídos e lançados para aluguel, e aí sim podemos ter uma questão séria de superoferta".

Um excesso de oferta, destaca Rocha Lima, só não acontecerá se houver um crescimento "brutal" da economia brasileira, que gera necessidade crescente de espaços. Mas se o crescimento da economia for "moderado", há grande probabilidade de superoferta dentro de dois a três anos.


 
Otimismo

As perspectivas pessimistas sobre este segmento, entretanto, não são compartilhadas por todos os especialistas e setores envolvidos na construção e venda de conjuntos de pequenos escritórios. "A cidade de São Paulo produziu pouco [deste tipo de imóvel] na última década, e estava na hora de recuperar um pouco", avalia Luiz Paulo Pompéia, diretor da Embraesp. Ele considera que 2010 foi um ano "forte", com um grande número de unidades comerciais lançadas, e "isso pode parecer, aparentemente, uma superoferta, mas para isso precisaria fazer uma análise um pouco mais ampliada, avaliando um período maior, não só 2010, mas desde 2006, porque o que está sendo lançado agora vai ficar pronto daqui a dois anos, aproximadamente".


Novos estoques de salas a caminho

-450 mil m² serão acrescentados ao estoque das regiões primárias da cidade até 2014

-220 mil m² serão acrescentados ao estoque das regiões secundárias

-40 mil m² estão em projeto, sem data definida de entrega, nas regiões primárias

-60 mil m² estão em projeto, sem data definida de entrega, nas regiões secundárias

-4% é a taxa média de vacância das salas existentes há mais de um ano e meio

-8% a 9% é a taxa média de vacância das salas entregues com até um ano e meio

Fonte: Colliers


Pompéia lembra que a previsão de entrega dos empreendimentos está concentrada, em grande parte, entre setembro de 2012 e meados de 2013, mas há lançamentos previstos até abril de 2014. "Acredito que a maioria destes empreendimentos será um sucesso. Um ou outro pode enfrentar esse problema de superoferta, mas há demanda não atendida em alguns bairros, e estes empreendimentos vieram para atendê- la." Ele lembra que em mercados mais saturados, como a Vila Olímpia, na zona Sul de São Paulo, houve apenas um lançamento de escritório comercial em 2010.

Atuando na "ponta" do mercado, Silvio Zarzur, vice-presidente de vendas da EZTec, construtora com forte atuação no segmento de pequenos escritórios, acredita que o mercado não terá excesso de oferta e ainda deve crescer mais nos próximos anos. "Sentimos que este era um mercado importante há três anos e meio, e desde então já lançamos sete empreendimentos neste segmento. Os primeiros tiveram velocidade de vendas muito forte, com preço bom. E de lá para cá só melhorou. Cada empreendimento que lançamos tem vendas mais rápidas e com melhores preços. Parece que este segmento tem uma força e uma continuidade muito grande", diz Zarzur.

"Muitos acham que o mercado vai arrefecer ao alugar, mas temos vistos a velocidade de vendas aumentar, com aluguéis melhores que o estimado antes do lançamento"  (Silvio Zarzur vice-presidente de vendas da EZTec)

Se a economia brasileira continuar crescendo a taxas entre 4% e 6% ao ano, "acho que essa oferta de escritórios que estão entrando não será suficiente", ressalta Zarzur. Ele rebate ainda o argumento de perda de valor na hora de alugar o escritório: "muita gente acha que este mercado vai arrefecer na hora de alugar o imóvel, mas o que a gente vê é a velocidade de vendas aumentar, com preços de aluguel melhores do que o estimado antes do lançamento". Zarzur destaca que a EZTec já lançou dois empreendimentos desta tipologia em 2010, e há mais quatro para serem lançados até dezembro. "Lançamos um na região atrás do shopping Morumbi, a R$ 10,5 mil/m2, e vendemos 80% dos conjuntos em cinco dias. Lançamos outro próximo ao metrô Ana Rosa, a R$ 13 mil/m2, e vendemos mais de 80% antes do primeiro final de semana. Temos gente ligando procurando este tipo de imóvel", salienta.

Dos imóveis nesta tipologia disponíveis para ocupação, a taxa de vacância gira atualmente entre 8% e 9% do total, segundo dados da Colliers. "Esta é uma vacância que considero saudável, e até 10% ou 11% é sustentável, acima disso o mercado fica muito favorável ao locatário, pois há uma grande oferta e o preço do aluguel tende a cair", diz Strumpf, da Colliers, acrescentado que "a taxa de vacância deve superar 11% daqui a dois anos, com certeza".


Investidores e compradores

Parte das divergências nos prognósticos deste segmento se dá pelo tipo de consumidor final, que nem sempre é o usuário. Boa parcela dos compradores destes escritórios é composta por investidores, com intenção de obter uma receita fixa com aluguéis, considerada mais segura que investimentos de outra natureza, mesmo no mercado imobiliário.

Para Zarzur, há basicamente três tipos de comprador: o que compra para uso próprio, o que compra e revende, e o que compra para alugar. "Acredito que hoje haja mais investidores do que usuários neste mercado", diz o vice-presidente da EZTec.

Já Pompéia avalia que o principal comprador destes empreendimentos é o consumidor final, mas vai além na categorização, dividindo os principais grupos de investidores de acordo com a finalidade projetada: "Há três atuações de investidores: o primeiro grande consumidor destes imóveis é o consumidor final, que compra este produto para ocupar e usar profissionalmente. O segundo grande grupo de comprador é o investidor, e este grupo se divide em dois: o de pequeno e médio porte, que se subdivide entre o investidor tradicional, que compra na planta para vender quando o prédio está ficando pronto, e o que compra o conjunto para alugar e obter renda com o imóvel", elenca o diretor da Embraesp.


Descentralização dos lançamentos

Um dos fatores que deixou investidores mais cautelosos em relação ao segmento de pequenos escritórios comerciais na capital paulista foi o grande número de empreendimentos desta tipologia surgindo em áreas sem tradição neste segmento.

Este movimento de descentralização fez com que nos últimos dois anos fossem registrados lançamentos em bairros como: Vila Madalena, Vila Leopoldina, Tucuruvi, Sacomã, Mooca,Vila Maria, Vila Clementino, Jabaquara, Ipiranga e Aclimação, com quase nenhuma tradição em pequenos escritórios, além de cidades como Taboão da Serra, São Caetano, Diadema e Cotia.

"Acho que está correta a pulverização dos edifícios de escritório, porque alguns bairros, Santana é um deles, mereciam mais lançamentos, pois tinha demanda e não tinha oferta", argumenta Pompéia, lembrando que neste bairro houve três empreendimentos lançados em 2010, sendo R$ 4.850 o menor preço do metro quadrado útil e R$ 7.241 o mais alto.

"Outro local que considero acertado o lançamento é a Vila Leopoldina, pois há um adensamento muito grande de lançamentos residenciais, e é um ponto estrategicamente bem posicionado, praticamente no entroncamento das marginais, próximo ao parque Villa Lobos, e bairros de classe média alta, como Alto de Pinheiros e Lapa", conclui Pompéia.

Há ainda no grupo de pequenos investidores, segundo Pompéia, uma figura que vem surgindo a partir de 2009: o investidor que compra a entrada. "Ele não tem dinheiro para comprar o produto inteiro, mas tem dinheiro para dar a entrada, e repassa esta entrada em seis meses ou um ano, e vende este imóvel com ganhos superiores aos que teria na bolsa, por exemplo." Por fim, explica Pompéia, há também o grande investidor, que compra vários andares; e aquele que compra no modelo Built-to-suit, feito sob medida.

O diretor da Embraesp ressalta que dentro do grupo de grandes investidores existe uma divisão entre nacionais e estrangeiros, sendo cada vez maior a presença deste último no Brasil. "Como as economias do hemisfério Norte do planeta ainda estão se recuperando, o grande investidor internacional está de olho no hemisfério Sul, e nele o grande mercado é o Brasil, que vem apresentando aumento de preços muito fortes, além do crescimento do segmento comercial estar muito forte no Rio de Janeiro, nossa grande vitrine internacional, apresentando taxas superiores ao crescimento do mesmo mercado em São Paulo", conclui Pompéia.


Riscos e oportunidades

Independente da existência ou não de saturação, investir no mercado de pequenos escritórios comerciais traz todo o tipo de risco, segundo Zarzur: "primeiro, a empresa deve ser especializada para fazer este tipo de prédio, pois há muitos itens a seguir; em segundo lugar, a empresa tem que estar altamente capitalizada, porque os terrenos são milionários; é preciso ainda estar preparado com mão de obra e uma retaguarda técnica muito grande, pois os clientes estão cada vez mais exigentes, e se não atender às especificações pretendidas, corre-se o risco de o aluguel ficar muito caro, ou de ter uma demora maior para realizar as vendas."

Ao avaliar oportunidades de investimento neste segmento, a empresa deve primeiro entender o local em que pretende construir, saber o que está sendo ofertado na região, ressalta Zarzur. "Há dois tipos de atrativos: o lugar onde não há concorrentes, com terrenos em lugares difíceis de conseguir, e lugares em expansão, como por exemplo o Largo da Batata (na região de Pinheiros), que daqui a dez anos terá uma grande transformação."

Strumpf lembra que como o conjunto comercial atende serviços, ele é viável também nos principais bairros de São Paulo, por exemplo. "Em um bairro residencial com potencial de consumo grande é possível lançar um conjunto comercial, pois haverá demanda em serviços, como advogados, médicos, dentistas, então ele tem essa mobilidade maior que lajes corporativas, estas tendo que concentrar-se nos bairros de caráter mais comercial mesmo. Pois uma empresa de mil funcionários, por exemplo, deve estar em uma região com infraestrutura adequada, não há como levar esse empreendimento para outro lugar."

Para o gerente de escritórios da Colliers, há ainda oportunidades no Rio de Janeiro e São Paulo, "que são mercados óbvios", mas existe também um crescimento expressivo "na região da Grande Campinas e Santos, com previsão de oferta e demanda altas. Além destes, Brasília, Recife, Fortaleza e Belo Horizonte seriam as principais praças com oportunidades de empreendimentos neste segmento".

Já Rocha Lima considera que bairros e locações tradicionalmente voltados para serviços, e regiões com escritórios, devem ser o foco de investimentos, pois "a aposta é menos complexa, porque há uma demanda natural". Ele frisa ainda que existem oportunidades na construção de escritórios próximo a grandes empreendimentos.

"Um grande complexo de shopping center pode dar vazão a um complexo de pequenos escritórios, pela sinergia, mas ela tem um limitador, não pode ser um complexo de escritórios de qualquer dimensão, tem que atentar para a demanda."


Por Bruno De Vizia / Revista Construção

A seguir, três especialistas de diferentes setores ensinam os principais cuidados que todo comprador deve tomar antes, durante e depois do processo de compra de um imóvel na planta:


1 - Defina seus critérios: Antes de começar a peregrinação pelos estandes das incorporadoras, lembre-se que a compra de um imóvel na planta é uma transação de longo prazo. É um tipo de negócio que sempre requer muita análise prévia sobre suas necessidades e realidade financeira nos próximos anos. "A pessoa deve se perguntar qual é o tamanho da prestação que cabe no bolso e qual é a necessidade da família. Quando isso estiver claro, você está pronto para procurar o imóvel adequado para seu perfil", afirma João Crestana, presidente do Secovi-SP, o sindicato da habitação. De acordo com ele, esse simples "cálculo" é suficiente para manter o comprador longe de fechar contratos por impulso.


2 - Bisbilhote o passado da construtora: "Para escapar de problemas, firme contratos com incorporadoras que tenham uma boa reputação no mercado", diz Octávio Galvão Neto, coordenador da Câmara de Avaliação do Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de São Paulo (IBAPE/SP). Não é possível chegar a conclusões concretas sobre a idoneidade da empresa com apenas algumas conversas com o corretor imobiliário no estande de vendas. Segundo especialistas, a primeira estratégia pra se prevenir de eventuais dores de cabeça com empreendimentos imobiliários é analisar o histórico da construtora. E isso demanda muita sola de sapato. É comum, por exemplo, que alguns prédios apresentem vícios na construção, como fissuras, infiltrações e outras deficiências resultantes de um mau planejamento arquitetônico - ou mesmo do uso de materiais de construção de baixa qualidade. Prever esse tipo de problema, contudo, é praticamente impossível. Por isso, aconselha Galvão, uma visita a outros lançamentos da construtora é indispensável. "Os problemas tendem a se repetir", diz. Assim, a dica é investigar com os moradores sobre possíveis atrasos na obra, problemas de infraestrutura e descumprimento de promessas. Verifique também se a empresa tem pendências na Justiça ou reclamações na Fundação Procon. Para conferir se a administradora pisou na bola com outros clientes, consulte a lista de reclamações no site do Procon.


3 - Atenção aos documentos: Para não cair em golpes, peça sempre uma cópia do memorial de incorporação da obra. Se o corretor disser que a construção ainda não possui, então nem continue a conversa. "É crime levantar um empreendimento sem estes documentos", diz Crestana, do Secovi. A lei 4591, de 1964, determina que, antes de iniciar qualquer negociação imobiliária, as incorporadoras devem registrar no cartório de imóveis um conjunto de quinze documentos. Entre eles estão a prova da propriedade do terreno, o projeto de construção aprovado pela prefeitura, o cálculo exato da área do imóvel e a descrição do acabamento e material utilizado na construção. "No memorial, tudo é descrito de maneira bem minuciosa. É preciso prestar muita atenção nesses itens", afirma Patrcia Ferraz, presidente da Associação dos Notários e Registradores do Estado de São Paulo (Anoreg-SP). Isso porque é muito fácil se encantar com a decoração dos apartamentos em exposição ou com as promessas dos corretores. No entanto, apenas o memorial de incorporação oferece uma dimensão concreta do imóvel que está sendo comprado.


4 - Visite a obra pessoalmente: Não visitar o local de construção da obra é um dos piores erros de quem está negociando um imóvel na planta. É comum que os estandes de vendas das construtoras fiquem em locais mais movimentados, como shopping centers. Muita gente opta pelo mais cômodo e confia apenas na descrição do imóvel feita pelos corretores. O conforto, no entanto, pode virar um pesadelo quando as chaves forem entregues. "Recentemente, vistoriei um empreendimento localizado em uma rua com problema de drenagem. Chovia e a água subia quase um metro", conta Galvão Neto. Ou seja, se os futuros condôminos deste novo prédio não tiverem a precaução de conversar com os moradores da região, poderão ter uma surpresa todas as vezes que nuvens negras se formarem no céu. Bancar o detetive para apurar questões como a infraestrutura urbana, os serviços de água e esgoto e até a presença de feiras ou festas na rua é essencial. Um bom passeio pela vizinhança pode garantir também um esboço sobre a média do IPTU e das taxas condominiais da região. Por outro lado, caso você feche o contrato fora do estabelecimento comercial, o Código de Defesa do Consumidor dá o direito de desistir da compra num período de sete dias. Mas sempre vale a pena checar tudo antes de assinar o contrato.


5 - Não subestime a maquete: Por mais bonita que seja, a maquete não é mero objeto de decoração do estande de vendas. É, sim, o principal instrumento para sua tomada de decisão. Por isso, examine a composição de cada item e pergunte se o que está ali corresponde à realidade do futuro empreendimento. Assim, na hora de escolher o apartamento para comprar, guie-se pelas coordenadas da maquete. "Os apartamentos da face sul tem menor insolação, nos da face norte sempre bate mais sol", afirma o presidente do Secovi-SP. Verifique também para onde dá a vista de cada imóvel - esse tipo de questionamento pode influenciar o preço do apartamento e, no futuro, sua valorização.


6 - Tudo pode ser usado no tribunal: A prevenção é sempre uma ótima aliada para quem está adquirindo um imóvel na planta. Os especialistas recomendam que o comprador guarde todos os papeis ou registros escritos que lhe forem entregues por funcionários da administradora. Vale até folhetos promocionais e e-mails trocados com os corretores. "Tente fazer as perguntas sempre por escrito para ter uma garantia", diz Galvao Neto. Todo este material pode servir como prova caso haja algum abuso por parte da empresa. Não é regra, mas por cautela, vale registrar todo este arquivo no cartório de registro de titulos e documentos.


7 - Torne oficial: Ao fechar o compromisso de compra e venda do imóvel, muitas pessoas se esquecem de registrar o documento. No entanto, pelas leis brasileiras, a propriedade só é transferida após o registro da escritura no cartório de registro de imóveis. "Não basta verificar a vida da pessoa que está vendendo. Sem o registro, você não tem os direitos sobre a propriedade", afirma Patrícia Ferraz. Ela exemplifica com um caso em que a proprietária de um imóvel decidiu registrar a escritura em cartório apenas alguns anos após a compra. "Neste período, a pessoa que vendeu o imóvel ficou com débito na previdência e o patrimônio ficou indisponibilizado", diz. Por outro lado, se você registrar o contrato, a incorporadora será obrigada a pedir sua autorização para qualquer mudança no projeto inicial, por exemplo. Para evitar gastos em dobro no cartório, muita gente não recorre a esta conduta. No entanto, no estado de São Paulo, é possível pagar 30% do valor final do registro da escritura no registro do compromisso de compra e venda do imóvel. Os outros 70% podem ser pagos na hora de registrar a escritura.


8 - Consulte o tabelião: Neste processo, outra dica é firmar o contrato sempre com a assessoria jurídica de um tabelião. Boa parte das construtoras de imóveis tem parceria com advogados que fazem este serviço. No entanto, estima-se que a economia seja de 20% a 40% quando se estabelece uma escritura pública em vez de um contrato particular. Por não ter ligação com nenhuma das partes do acordo, a assessoria do tabelião para compor o contrato será mais imparcial e, por isso, menos arriscada para os compradores. Não são raros os casos de irregularidades neste tipo de contrato - que podem passar "despercebidas", dependendo da parceria do assessor jurídico com a incorporadora. Além disso, caso a construtora se torne inadimplente e não termine a obra, compradores que recorreram à escritura pública tornam-se automaticamente proprietários de parte do terreno onde o imóvel seria construído. Fato que garante maior segurança para a transação.


9 - Fique de olho na política de juros: Um abuso comum neste tipo de transação são os chamados juros no pé. Até a entrega das chaves, o comprador tem a garantia de que não precisará pagar juros. No entanto, assim que o imóvel fica pronto, a incorporadora passa a cobrar juros sobre todo o período financiado. Uma portaria de 2001 emitida pela Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça considera a prática irregular. No entanto, o assunto não é consensual entre os juristas. Há histórico de ações judiciais que deram ganho de causa para as construtoras que cobraram os juros. Para evitar problemas, recomenda-se criar uma cláusula no contrato que determine a rescisão ou devolução do dinheiro em casos como esse.


10 - Seja beneficiário do seguro: Fique atento aos contratos firmados com as companhias de seguro. Este tipo de acordo serve de garantia tanto para os casos de inadimplência do comprador quanto para irregularidades da administradora. Por isso, fique atento às clausulas que determinam quem é o beneficiário do contrato. Se for a incorporadora, em caso de atraso da obra, ela terá o direito de receber a indenização e ao comprador restará o prejuízo.


E finalmente, consulte um corretor de imóveis credenciado (como eu) de sua confiança.


Fonte: Portal Exame