domingo, 14 de fevereiro de 2010

Bancos preveem juro estável para crédito imobiliário em 2010

Segundo executivos, provável alta do juro básico da economia (Selic) não influenciará custo dos financiamentos.


SÃO PAULO - Enquanto o mercado financeiro discute quando e quanto o juro básico deve subir neste ano, no imobiliário o discurso é de que as taxas dos financiamentos não vão acompanhar a trajetória de alta da Selic. O principal argumento dos bancos é de que a maior parte dos recursos do crédito imobiliário é captada por meio da poupança, investimento que não sofre grandes alterações de rentabilidade quando o juro básico é modificado.


Especialistas esperam que a Selic encerre 2010 em 11,25% ao ano (ante 8,75% hoje), de acordo com o mais recente boletim Focus do Banco Central (BC), resultado de uma pesquisa com centenas de instituições financeiras e consultorias. "Os recursos do crédito imobiliário vêm da poupança. Mesmo com a Selic tendo um ajuste, não deve haver alteração nas taxas praticadas", disse o superintendente executivo de crédito imobiliário do Bradesco, Claudio Borges. Por lei, os bancos são obrigados a direcionar 65% do dinheiro da poupança a empréstimos habitacionais.


Independentemente do novo nível da Selic, a caderneta paga ao investidor 0,5% ao mês mais Taxa Referencial (TR) - calculada a partir da taxa média dos Certificados de Depósito Bancário (CDBs). A rentabilidade estável da caderneta faz com que o custo dos bancos ao captar o dinheiro para empréstimos imobiliários não suba caso a Selic seja elevada.


O juro do financiamento varia entre 8% e 10% ao ano mais TR. "Parte do cálculo da TR contém a Selic. Se o juro sobe, a TR deve subir também, mas a parte fixa do financiamento não deve ser alterada", afirmou o diretor de empréstimos e financiamentos do Banco do Brasil, Nilson Martiniano. A TR tem um custo muito baixo para o mutuário. Nos últimos meses, tem ficado abaixo de 0,1% ao mês.


Segundo os bancos, não deve ocorrer algo parecido com o visto em outubro de 2008, quando as instituições aumentaram o juro cobrado no empréstimo imobiliário. Em alguns casos, a taxa chegou a 12% ao ano mais TR. "Não foi somente a Selic que fez o juro do crédito subir no passado. Foi uma questão de mercado", lembra o diretor de crédito imobiliário do Santander, José Roberto Machado Filho. Na época, havia o temor de que a inadimplência subiria.


Recorde


O início de ano fraco não impediu que 2009 batesse recorde de financiamento em valor e em unidades financiadas. Foram concedidos R$ 34 bilhões em empréstimos com dinheiro da poupança. No total, 302,7 mil unidades foram financiadas, segundo a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário Poupança (Abecip).


O aumento da oferta de crédito se explica, em parte, pela captação da poupança. Os depósitos bateram recorde - R$ 300 bilhões - em 2009. "No primeiro semestre, poderia dizer que inexistiu lançamento de imóveis, pois a crise fez com que as construtoras não tomassem mais empréstimos para construir e tentassem vender o estoque existente", disse o diretor de crédito imobiliário do HSBC, Antonio Barbosa.


Segundo especialistas, a confiança da pessoa física na economia aumentou agora. "O comprador ficou receoso em assumir dívidas na crise", disse o diretor de crédito imobiliário do Itaú Unibanco, Luiz França. "Em dezembro, emprestamos R$ 2,39 bilhões à pessoa física. Houve uma volta clara ao financiamento de novos e usados."


A expectativa é de que o crédito avance neste ano. "Esperamos fechar 2010 com R$ 3,7 bilhões em crédito imobiliário", disse o gerente-executivo de empréstimos do BB, Sérgio Augusto Kurovski, que emprestou R$ 600 milhões em 2009. A Caixa Econômica Federal, líder do mercado, acredita que o crédito alcançará R$ 50 bilhões, ante R$ 47 bilhões de 2009. "O crédito imobiliário ainda representa muito pouco do PIB", frisa Barbosa, do HSBC. Segundo a consultoria Accenture, no Brasil, esse porcentual é de 2,1%, contra 65% nos EUA e 9% no México.


'Aproveitei as taxas atrativas'


Milhares de brasileios, como Junior Bueno de Camargo, de 37 anos, aproveitaram o bom momento do mercado imobiliário - de juros no nível mais baixo da história - para trocar a casa própria. "Estou morando no ABC Paulista e queria volar para São Paulo para ficar mais próximo do trabalho. Aproveitei a oportunidade de taxas atrativas e pagamento facilitado para adiquirir um apartamento no Morumbi", diz o economista, que financiou seu imóvel a um juro de 9,1% ao ano mais TR. "Vou financiar 70% do valor do imóvel e pagar em 20 anos."


Três meses de pesquisa na região e um mês oara a liberação do crédito foram suficientes para Camargo conseguir comprar o apartamento de 100 metros quadrados em novembro. "Quis omprar no fim do ano para fazer a mudança ainda durante as férias escolares dos meus filhos."



Yolanda Fordelone, do Economia & Negócios



A seguir, três especialistas de diferentes setores ensinam os principais cuidados que todo comprador deve tomar antes, durante e depois do processo de compra de um imóvel na planta:


1 - Defina seus critérios: Antes de começar a peregrinação pelos estandes das incorporadoras, lembre-se que a compra de um imóvel na planta é uma transação de longo prazo. É um tipo de negócio que sempre requer muita análise prévia sobre suas necessidades e realidade financeira nos próximos anos. "A pessoa deve se perguntar qual é o tamanho da prestação que cabe no bolso e qual é a necessidade da família. Quando isso estiver claro, você está pronto para procurar o imóvel adequado para seu perfil", afirma João Crestana, presidente do Secovi-SP, o sindicato da habitação. De acordo com ele, esse simples "cálculo" é suficiente para manter o comprador longe de fechar contratos por impulso.


2 - Bisbilhote o passado da construtora: "Para escapar de problemas, firme contratos com incorporadoras que tenham uma boa reputação no mercado", diz Octávio Galvão Neto, coordenador da Câmara de Avaliação do Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de São Paulo (IBAPE/SP). Não é possível chegar a conclusões concretas sobre a idoneidade da empresa com apenas algumas conversas com o corretor imobiliário no estande de vendas. Segundo especialistas, a primeira estratégia pra se prevenir de eventuais dores de cabeça com empreendimentos imobiliários é analisar o histórico da construtora. E isso demanda muita sola de sapato. É comum, por exemplo, que alguns prédios apresentem vícios na construção, como fissuras, infiltrações e outras deficiências resultantes de um mau planejamento arquitetônico - ou mesmo do uso de materiais de construção de baixa qualidade. Prever esse tipo de problema, contudo, é praticamente impossível. Por isso, aconselha Galvão, uma visita a outros lançamentos da construtora é indispensável. "Os problemas tendem a se repetir", diz. Assim, a dica é investigar com os moradores sobre possíveis atrasos na obra, problemas de infraestrutura e descumprimento de promessas. Verifique também se a empresa tem pendências na Justiça ou reclamações na Fundação Procon. Para conferir se a administradora pisou na bola com outros clientes, consulte a lista de reclamações no site do Procon.


3 - Atenção aos documentos: Para não cair em golpes, peça sempre uma cópia do memorial de incorporação da obra. Se o corretor disser que a construção ainda não possui, então nem continue a conversa. "É crime levantar um empreendimento sem estes documentos", diz Crestana, do Secovi. A lei 4591, de 1964, determina que, antes de iniciar qualquer negociação imobiliária, as incorporadoras devem registrar no cartório de imóveis um conjunto de quinze documentos. Entre eles estão a prova da propriedade do terreno, o projeto de construção aprovado pela prefeitura, o cálculo exato da área do imóvel e a descrição do acabamento e material utilizado na construção. "No memorial, tudo é descrito de maneira bem minuciosa. É preciso prestar muita atenção nesses itens", afirma Patrcia Ferraz, presidente da Associação dos Notários e Registradores do Estado de São Paulo (Anoreg-SP). Isso porque é muito fácil se encantar com a decoração dos apartamentos em exposição ou com as promessas dos corretores. No entanto, apenas o memorial de incorporação oferece uma dimensão concreta do imóvel que está sendo comprado.


4 - Visite a obra pessoalmente: Não visitar o local de construção da obra é um dos piores erros de quem está negociando um imóvel na planta. É comum que os estandes de vendas das construtoras fiquem em locais mais movimentados, como shopping centers. Muita gente opta pelo mais cômodo e confia apenas na descrição do imóvel feita pelos corretores. O conforto, no entanto, pode virar um pesadelo quando as chaves forem entregues. "Recentemente, vistoriei um empreendimento localizado em uma rua com problema de drenagem. Chovia e a água subia quase um metro", conta Galvão Neto. Ou seja, se os futuros condôminos deste novo prédio não tiverem a precaução de conversar com os moradores da região, poderão ter uma surpresa todas as vezes que nuvens negras se formarem no céu. Bancar o detetive para apurar questões como a infraestrutura urbana, os serviços de água e esgoto e até a presença de feiras ou festas na rua é essencial. Um bom passeio pela vizinhança pode garantir também um esboço sobre a média do IPTU e das taxas condominiais da região. Por outro lado, caso você feche o contrato fora do estabelecimento comercial, o Código de Defesa do Consumidor dá o direito de desistir da compra num período de sete dias. Mas sempre vale a pena checar tudo antes de assinar o contrato.


5 - Não subestime a maquete: Por mais bonita que seja, a maquete não é mero objeto de decoração do estande de vendas. É, sim, o principal instrumento para sua tomada de decisão. Por isso, examine a composição de cada item e pergunte se o que está ali corresponde à realidade do futuro empreendimento. Assim, na hora de escolher o apartamento para comprar, guie-se pelas coordenadas da maquete. "Os apartamentos da face sul tem menor insolação, nos da face norte sempre bate mais sol", afirma o presidente do Secovi-SP. Verifique também para onde dá a vista de cada imóvel - esse tipo de questionamento pode influenciar o preço do apartamento e, no futuro, sua valorização.


6 - Tudo pode ser usado no tribunal: A prevenção é sempre uma ótima aliada para quem está adquirindo um imóvel na planta. Os especialistas recomendam que o comprador guarde todos os papeis ou registros escritos que lhe forem entregues por funcionários da administradora. Vale até folhetos promocionais e e-mails trocados com os corretores. "Tente fazer as perguntas sempre por escrito para ter uma garantia", diz Galvao Neto. Todo este material pode servir como prova caso haja algum abuso por parte da empresa. Não é regra, mas por cautela, vale registrar todo este arquivo no cartório de registro de titulos e documentos.


7 - Torne oficial: Ao fechar o compromisso de compra e venda do imóvel, muitas pessoas se esquecem de registrar o documento. No entanto, pelas leis brasileiras, a propriedade só é transferida após o registro da escritura no cartório de registro de imóveis. "Não basta verificar a vida da pessoa que está vendendo. Sem o registro, você não tem os direitos sobre a propriedade", afirma Patrícia Ferraz. Ela exemplifica com um caso em que a proprietária de um imóvel decidiu registrar a escritura em cartório apenas alguns anos após a compra. "Neste período, a pessoa que vendeu o imóvel ficou com débito na previdência e o patrimônio ficou indisponibilizado", diz. Por outro lado, se você registrar o contrato, a incorporadora será obrigada a pedir sua autorização para qualquer mudança no projeto inicial, por exemplo. Para evitar gastos em dobro no cartório, muita gente não recorre a esta conduta. No entanto, no estado de São Paulo, é possível pagar 30% do valor final do registro da escritura no registro do compromisso de compra e venda do imóvel. Os outros 70% podem ser pagos na hora de registrar a escritura.


8 - Consulte o tabelião: Neste processo, outra dica é firmar o contrato sempre com a assessoria jurídica de um tabelião. Boa parte das construtoras de imóveis tem parceria com advogados que fazem este serviço. No entanto, estima-se que a economia seja de 20% a 40% quando se estabelece uma escritura pública em vez de um contrato particular. Por não ter ligação com nenhuma das partes do acordo, a assessoria do tabelião para compor o contrato será mais imparcial e, por isso, menos arriscada para os compradores. Não são raros os casos de irregularidades neste tipo de contrato - que podem passar "despercebidas", dependendo da parceria do assessor jurídico com a incorporadora. Além disso, caso a construtora se torne inadimplente e não termine a obra, compradores que recorreram à escritura pública tornam-se automaticamente proprietários de parte do terreno onde o imóvel seria construído. Fato que garante maior segurança para a transação.


9 - Fique de olho na política de juros: Um abuso comum neste tipo de transação são os chamados juros no pé. Até a entrega das chaves, o comprador tem a garantia de que não precisará pagar juros. No entanto, assim que o imóvel fica pronto, a incorporadora passa a cobrar juros sobre todo o período financiado. Uma portaria de 2001 emitida pela Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça considera a prática irregular. No entanto, o assunto não é consensual entre os juristas. Há histórico de ações judiciais que deram ganho de causa para as construtoras que cobraram os juros. Para evitar problemas, recomenda-se criar uma cláusula no contrato que determine a rescisão ou devolução do dinheiro em casos como esse.


10 - Seja beneficiário do seguro: Fique atento aos contratos firmados com as companhias de seguro. Este tipo de acordo serve de garantia tanto para os casos de inadimplência do comprador quanto para irregularidades da administradora. Por isso, fique atento às clausulas que determinam quem é o beneficiário do contrato. Se for a incorporadora, em caso de atraso da obra, ela terá o direito de receber a indenização e ao comprador restará o prejuízo.


E finalmente, consulte um corretor de imóveis credenciado (como eu) de sua confiança.


Fonte: Portal Exame